Sala de aula com criança celíaca

FENACELBRA·TERÇA, 28 DE MARÇO DE 2017

A criança celíaca tem uma doença inflamatória autoimune e sistêmica, que afeta principalmente seu intestino delgado. É disparada pelo consumo de alimentos que contém GLÚTEN, proteína presente no trigo, cevada, centeio, aveia e seus derivados. Seu único tratamento consiste em uma rigorosa dieta isenta de glúten por toda a vida. Além dos cuidados com tudo o que é ingerido, será necessário também fazer o controle de traços dessa proteína nos ambientes onde ela convive. Para isso, é preciso evitar o contato com o glúten disperso pelo ambiente, pois crianças têm hábito de colocar as mãos em tudo à sua volta e seguidamente levam a mão à boca. O risco de ingestão por esta via é alto.

Ao iniciar sua vida escolar, além dos cuidados com sua alimentação, é necessário também garantir o controle de traços de glúten na sala de aula que ela irá frequentar. Essa sala precisa ser um lugar seguro onde professores e assistentes saibam identificar a presença do glúten e saibam evitar o contato da criança celíaca com ele.
Se a sala tiver turmas diferentes no contraturno, os cuidados descritos neste texto deverão ser também adotados por elas. Mesmo não tendo ali outro aluno com essa condição médica, os cuidados serão necessários pois esses grupos dividem os mesmos móveis e materiais coletivos com a turma da criança celíaca. As pessoas responsáveis pela limpeza precisam de orientação e treinamento para fazer a higienização correta neste espaço.
O Glúten do trigo é uma poderosa cola. É invisível e sem cheiro. Não se pode perceber apenas pelo olhar. Diferente, por exemplo, do ovo, uma proteína que tem cheiro característico e que rapidamente reconhecemos se as mãos ou o copo ou prato ou vasilha estão mal lavados. Ou ainda se o pano da limpeza está com traços de ovos. O glúten é difícil de ser removido das superfícies apenas com um pano molhado ou embebido em álcool.

CONTROLE DE GLÚTEN NO AMBIENTE DA SALA DE AULA

São duas situações escolares que mais podem trazer riscos para a saúde da criança celíaca: o lanche servido em sala de aula e os materiais de atividades.

1-HORÁRIO DO LANCHE

Se o lanche for feito em sala de aula todos devem:

– lavar suas mãos antes de começar (tirar sujidades, bactérias) e ao terminar (tirar restos de alimentos e possíveis migalhas de glúten);

– o sabonete deve ser líquido (sem glúten!);

– não devem trocar lanches com a criança celíaca;

– não devem tocar em sua merenda (se estiverem comendo glúten podem transferir traços);

– as mesas devem ser higienizadas com toalhas de papel descartáveis (para evitar os panos de limpeza que na verdade vão espalhando pela sala os traços de glúten);

– a sala deve ter seus próprios materiais de limpeza como panos, vassouras, pás, esponjas, baldes, bacias, detergentes, álcool. E devem ficar armazenados longe do material coletivo de toda a escola. Isso inibe o uso indevido em outras salas sem controle de contaminação, e garante o sucesso dos procedimentos de segurança adotados pela Escola para a sala do aluno celíaco.

*Obs: festas de aniversário devem ser realizadas em outro local, preservando assim o ambiente da sala de aula.

Se o lanche for feito em espaços coletivos:
– todos devem lavar as mãos na volta para a sala de aula, inclusive professores e assistentes;
– as lancheiras devem ser colocadas na sala em local exclusivo, previamente combinado;
– as crianças da sala devem saber que estes procedimentos são necessários para que o colega celíaco fique bem em sala de aula.

Com o tempo vira rotina para todos e se torna um comportamento natural. Assim como escovar os dentes após as refeições ou apagar as luzes e ventiladores quando não tem ninguém num ambiente. Pode parecer excesso no princípio mas depois vira hábito.

Lanchinho sem glúten
Lanchinho sem glúten

2-MATERIAIS PARA ATIVIDADES COLETIVAS

O ideal para o aluno celíaco é não ter nenhum tipo de material escolar com glúten nessa sala de aula.

Geralmente o maior perigo está nas massinhas de modelar feitas com carboidrato de cereal (trigo). O glúten pode estar presente também nas tintas, nas colas, no biscuit, no papier machê, no giz (importado), nas “gelecas”, nas experiências culinárias, nas receitas artesanais de materiais feitos pelo professor, no material de higiene, nos balões e luvas de látex, etc. Existem massinhas de modelar industrializadas feitas com cera de abelha. Algumas marcas como a Faber Castell e Acrilex disponibilizam com os dois materiais e já consta o alerta sobre presença de glúten nas embalagens.
As receitas artesanais, feitas pelos professores em sala de aula usando farinha de trigo, podem ser substituídas por outras farinhas como o polvilho doce ou o amido de milho. Também nas experiência culinárias o glúten pode ser substituído, evitando o risco de dispersão de poeira de trigo. A farinha de trigo pode ficar em suspensão no ar por mais de 24 horas. Há balões e luvas de látex no mercado que em seu interior tem amido de milho ou fécula de mandioca e não farinha de trigo.
A Escola sabendo que receberá um aluno celíaco poderá providenciar que o material disponibilizado ou pedido aos pais nessas turmas possa ser todo sem glúten.

Massinha de modelar à base de cera sem glúten
Massinha de modelar à base de cera sem glúten

POR QUE É NECESSÁRIO TAMBÉM TER CUIDADO COM O MATERIAL ESCOLAR SE A CRIANÇA CELÍACA NÃO VAI COMÊ-LO?

Quem conhece a dinâmica de uma sala de aula infantil poderá entender melhor essa questão. Geralmente os professores usam tapetes ou toalhas especiais para que as crianças trabalhem com o material artístico sobre as mesas da sala. Ao terminarem, todas lavam as mãos sem se alongar e uma limpeza rápida é feita nas mesas pelo assistente de sala.
Perceba o que pode acontecer quando neste material tem farinha de trigo: durante essas atividades, se tem um aluno celíaco na turma, as crianças devem evitar tocar nas cadeiras e mesas, maçanetas e puxadores de armários ou em outros brinquedos enquanto as mãos estão literalmente cheias de farinha de trigo. As mãos carregam traços de glúten para estes lugares deixando a sala um lugar de altíssimo risco de contaminação para o celíaco.
As mãos das crianças que lidam com massinha de farinha de trigo precisam ser lavadas com bastante água e sabão, tendo especial cuidados com as dobras e por debaixo das unhas, num processo bem demorado. A sala de aula precisa de uma limpeza especial e mais complexa (várias etapas, repetidas vezes) com material descartável.
Infelizmente não é o que acontece pois são muitas crianças e fica impossível para os professores e assistentes controlar toda essa movimentação. Mesmo usando procedimentos como colocar tapetinho exclusivo para a criança celíaca e seu material ser sem glúten, o risco de contaminação da sala é muito grande.
Como lidar com estes procedimentos no tempo escasso que se tem para organizar o espaço da sala de aula e já passar para outra atividade? A superfície das mesas e cadeiras, dos brinquedos e dos materiais da sala devem ser livres de traços de glúten porque, como dissemos anteriormente, crianças colocam a mão na boca constantemente e objetos também (lápis, canetas, pincéis e brinquedos). Como ter certeza absoluta que a sala está isenta de traços de glúten e que a criança celíaca está protegida e livre para transitar com segurança? Fica quase impossível, com a rotina escolar, usar materiais com glúten e ao mesmo tempo conseguir manter o ambiente livre de traços para o aluno celíaco.
Para que a criança celíaca fique em segurança é necessário que não se manipule na sala nenhuma massinha com glúten ou outro material que tenha esta proteína. É muito mais fácil para a Escola não ter material escolar com glúten nessa sala de aula do que ter que adotar uma série de procedimentos e preocupações para garantir a isenção de traços que podem falhar frequentemente.
Recomendamos fortemente que seja feito todo o esforço por parte da Escola em manter o ambiente da sala de aula seguro e favorável para a manutenção da saúde do pequeno celíaco. E que o material escolar usado ali seja todo sem glúten.

Receber a criança celíaca e garantir sua segurança demanda alguma adaptação e mudança nas rotinas mas logo são incorporadas e a Escola cresce e evolui.

Ester Benatti

Professora Graduada em Licenciatura em Educação Artística- Artes Visuais UFRJ

Vice-presidente da ACELBRA-RS – Secretaria Executiva da FENACELBRA

Março de 2017

 

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