The war on gluten: Existe a sensibilidade ao glúten não celíaca – SGNC ??

 

 

Muitos emails chegam para nós perguntando sobre a sensibilidade ao glúten não celíaca – SGNC, se existem estudos, se existem exames, qual médico pode diagnosticar, etc… Eu encontrei esse artigo da revista Science: THE WAR ON GLUTEN que diz um pouco a respeito desse grande enigma que são as desordens relacionadas ao glúten. Esperamos que consiga esclarecer um pouco de “em que pé estamos” nas pesquisas!

Segue o texto que é uma tradução/adaptação para melhor entendimento :

The War on Gluten – What’s really behind ‘gluten sensitivity’? by Kelly Servick (May 2018)

Os pacientes não eram malucos – Knut Lundin, tinha certeza disso. Mas, a doença deles era um mistério. Eles estavam convencidos de que o glúten estava deixando-os doentes, no entanto eles não tinham doença celíaca, uma reação auto-imune às proteínas encontradas no trigo, na cevada e no centeio, os exames para alergia ao trigo também eram negativos. Eles ocupavam uma “terra de ninguém” para os médicos.

Cerca de uma década atrás, gastroenterologistas como Lundin, da Universidade de Oslo, se depararam com mais e mais desses casos enigmáticos. “Eu trabalhei com doença celíaca e glúten por tantos anos”, diz ele, “e então veio essa onda”.

Escolhas sem glúten começaram a aparecer nos cardápios dos restaurantes e nas prateleiras das mercearias. Em 2014, somente nos Estados Unidos, estima-se que 3 milhões de pessoas sem doença celíaca haviam descartado o glúten. Era fácil supor que as pessoas que diziam ser “sensíveis ao glúten” tinham acabado de aderir a um modismo alimentar.

“Geralmente, a reação do gastroenterologista era dizer: ‘Você não tem doença celíaca ou alergia ao trigo. Adeus'”, diz Armin Alaedini, imunologista da Universidade de Columbia. “Muitas pessoas pensaram que isso talvez se deva a alguma outra sensibilidade [alimentar], ou coisas na cabeça das pessoas”.

Mas, uma pequena comunidade de pesquisadores começou a procurar por uma ligação entre os componentes do trigo e os sintomas dos pacientes – geralmente dor abdominal, inchaço e diarréia, e às vezes dores de cabeça, fadiga, erupções cutâneas e dores articulares. O trigo realmente pode fazer pacientes não-doentes em doentes e isso agora é amplamente aceito.

Conforme os dados chegavam, os campos entrincheirados surgiam. Alguns pesquisadores estão convencidos de que muitos pacientes têm uma reação imune ao glúten ou a outra substância no trigo – uma doença nebulosa, às vezes chamada de sensibilidade ao glúten não-celíaca (SGNC).

Outros acreditam que a maioria dos pacientes está realmente reagindo a um excesso de carboidratos mal absorvidos presentes no trigo e em muitos outros alimentos. Esses carboidratos – chamados de FODMAPs, para oligossacarídeos fermentáveis, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis – podem causar inchaço quando fermentam no intestino. Se os FODMAPs forem os principais culpados, milhares de pessoas podem estar em dietas sem glúten com o apoio de seus médicos e nutricionistas, porém sem ter certeza realmente se é o glúten.

Essas teorias sobre sensibilidade ao trigo foram abordadas em um simpósio sobre doença celíaca realizado em Columbia, em março. Em conversas consecutivas, Lundin defendeu os FODMAPs e Alaedini por reação imunológica. Mas, ironicamente, ambos os pesquisadores começaram suas buscas acreditando em algo completamente diferente, o que demonstra o quão confuso esse assunto é.

Doenças relacionadas ao trigo conhecidas nos dias de hoje têm mecanismos e marcadores claros. Pessoas com doença celíaca são geneticamente predispostas a lançar uma resposta imune autodestrutiva quando um componente do glúten chamado gliadina penetra seu revestimento intestinal e libera células inflamatórias no tecido adentro. Pessoas com alergia ao trigo respondem às proteínas do trigo produzindo uma classe de anticorpos chamada imunoglobulina e que pode causar vômito, coceira e falta de ar. O enigma, tanto para os médicos quanto para os pesquisadores, são os pacientes que não têm os anticorpos reveladores e os danos visíveis em seus intestinos, mas sentem um alívio real quando cortam os alimentos que contém glúten.

Alguns médicos começaram a aprovar e até recomendar uma dieta sem glúten. “Finalmente, estamos aqui para não fazer ciência, mas para melhorar a qualidade de vida”, diz Alessio Fasano, um gastroenterologista pediátrico do Hospital Geral de Massachusetts, em Boston, que estudou o NCGS e escreveu um livro sobre viver livre de glúten. “Se eu tiver que jogar ossos no chão e olhar a lua para fazer alguém melhor, mesmo que eu não entenda o que isso significa, eu farei isso.”

Como muitos médicos, Lundin acreditava que (seguidores de dieta da moda e comedores supersticiosos à parte) alguns pacientes têm uma doença real relacionada ao trigo. Seu grupo ajudou a dissipar a noção de que o SGNC era puramente psicossomática. Eles pesquisaram pacientes por níveis incomuns de sofrimento psicológico que poderiam se expressar como sintomas físicos. Mas, as pesquisas não mostraram diferenças entre esses pacientes e as pessoas com doença celíaca, relatou a equipe em 2012. Como Lundin disse: “Sabemos que eles não são loucos”.

Ainda assim, os céticos temiam que as evidências contra o glúten fossem inconsistentes. Afinal, ninguém come glúten isoladamente. “Se não soubéssemos sobre o papel específico do glúten na doença celíaca, nunca teríamos pensado que o glúten era responsável pelo SGNC”, diz Stefano Guandalini, um gastroenterologista pediátrico do Centro Médico da Universidade de Chicago, em Illinois. “Por que culpar o glúten?”

Os defensores do SGNC geralmente reconhecem que outros componentes do trigo podem contribuir para os sintomas. Em 2012, um grupo de proteínas do trigo, centeio e cevada, chamadas inibidores da amilase tripsina, surgiu como um infrator em potencial, por exemplo, depois de uma equipe liderada pelo bioquímico Detlef Schuppan da Universidade Johannes Gutenberg Mainz na Alemanha (então na Harvard Medical School em Boston) relataram que essas proteínas podem provocar células imunes.

Porém sem marcadores biológicos para identificar pessoas com SGNC, os pesquisadores confiaram em sintomas auto-relatados medidos através de um “desafio ao glúten”: os pacientes avaliam como se sentem antes e depois de cortar o glúten. Em seguida, os médicos reintroduzem o glúten ou um placebo – idealmente disfarçados em pílulas ou lanches indistinguíveis – para ver se os sintomas aparecem.

Alaedini, recentemente atingiu um conjunto mais objetivo de possíveis marcadores biológicos – para sua própria surpresa. “Eu entrei completamente como um cético”, diz ele. Ao longo de sua carreira, ele gravitou no sentido de estudar os transtornos do espectro, nos quais diversos sintomas ainda precisam ser unidos sob uma clara causa biológica – e onde a desinformação pública é abundante. Sua equipe publicou um estudo em 2013, por exemplo, que desmentiu a popular sugestão de que crianças com autismo tinham altas taxas de doença de Lyme. “Eu faço estudos [onde] há um espaço vazio”, diz ele – quando há uma lacuna, uma dúvida…

No SGNC, Alaedini viu outro distúrbio do espectro mal definido. Ele aceitou que pacientes sem doença celíaca poderiam, de alguma forma, ser sensíveis ao trigo, com base em vários estudos que mediram os sintomas após um desafio cego. Mas ele não estava convencido por estudos anteriores, alegando que os pacientes com SGNC eram mais propensos do que outras pessoas a ter certos anticorpos para gliadina. Muitos desses estudos não tinham um grupo de controle saudável, diz ele, e contavam com kits de anticorpos comerciais que davam leituras obscuras e inconsistentes.

Em 2012, ele contatou pesquisadores da Universidade de Bolonha, na Itália, para obter amostras de sangue de 80 pacientes que sua equipe havia identificado como sensíveis ao glúten com base em um desafio com glúten. Ele queria testar as amostras em busca de sinais de uma resposta imune única – um conjunto de moléculas de sinalização diferentes daquelas encontradas no sangue de voluntários saudáveis ​​e pacientes celíacos. Ele não estava otimista. “Eu pensei que se nós estivéssemos indo ver algo, como com muitas condições de espectro que eu olhei, veríamos pequenas diferenças.” Os resultados chocaram-no. Em comparação com pessoas saudáveis ​​e celíacas, esses pacientes apresentavam níveis significativamente mais altos de uma determinada classe de anticorpos contra o glúten, o que sugere uma resposta imune sistêmica de curta duração. Isso não significa que o próprio glúten estava causando a doença, mas a descoberta sugeriu que a barreira do intestino desses pacientes pode estar com defeito, permitindo que o glúten parcialmente digerido saia do intestino e interaja com as células do sistema imunológico no sangue. Outros elementos – como bactérias que provocam a resposta imune – também podem estar escapando. Com certeza, a equipe encontrou níveis elevados de duas proteínas que indicam uma resposta inflamatória às bactérias. E quando 20 dos mesmos pacientes passaram 6 meses com uma dieta isenta de glúten, os seus níveis sanguíneos desses marcadores diminuíram.

Para Alaedini, surgiu o princípio de um mecanismo: algum componente de trigo ainda não identificado faz com que o revestimento intestinal se torne mais permeável. (Um desequilíbrio nos micróbios do intestino pode ser um fator predisponente.) Os componentes das bactérias parecem então passar despercebidos pelas células imunes no tecido intestinal subjacente e chegar à corrente sanguínea e ao fígado, provocando inflamação.

“Esta é uma condição real, e pode haver marcadores biológicos objetivos para ela”, diz Alaedini. “Esse estudo mudou muitas mentes, incluindo a minha.”

O estudo também impressionou Guandalini, há muito céptico sobre o papel do glúten. Isso “abre o caminho para finalmente alcançar um marcador identificável para essa condição”, diz ele.

Mas outros vêem a explicação da resposta imune como um “arenque vermelho” (para nós brasileiros : sinal/pista que é enganoso/incorreto) . Para eles, o principal vilão é o FODMAP. O termo, cunhado pelo gastroenterologista Peter Gibson na Monash University em Melbourne, na Austrália, e sua equipe, engloba uma miscelânea de alimentos comuns. s : Cebola e alho; legumes; leite e iogurte; e frutas, incluindo maçãs, cerejas e mangas são todos ricos em FODMAPs. O trigo também é! Os carboidratos no trigo, chamados frutanos, podem representar até metade do consumo de FODMAP de uma pessoa, estimaram os nutricionistas do grupo de Gibson. A equipe descobriu que esses compostos fermentam no intestino para causar sintomas da síndrome do intestino irritável, como dor abdominal, inchaço e gases.

Gibson tem sido céptico sobre os estudos que implicam o glúten em tais sintomas, argumentando que esses resultados são irremediavelmente obscurecidos pelo efeito nocebo, em que a mera expectativa de engolir o temido ingrediente agrava os sintomas. Sua equipe descobriu que a maioria dos pacientes não podia distinguir de forma confiável o glúten puro de um placebo em um teste cego. Ele acredita que muitas pessoas se sentem melhor depois de eliminar o trigo, não porque elas acalmaram alguma intricada reação imunológica, mas porque reduziram a ingestão de FODMAPs.

Lundin, que estava firmemente no estudo de reação imunológica, não acreditava que os FODMAPs pudessem explicar todos os seus pacientes. “Eu queria mostrar que Peter estava errado”, diz ele. Durante um período sabático de duas semanas no laboratório da Monash, ele encontrou algumas barrinhas de cereais feitas de quinoa destinadas a disfarçar o sabor e a textura dos ingredientes. “Eu disse: ‘Nós vamos pegar essas barrinhas de cereais e fazer o estudo perfeito.'”

Sua equipe recrutou 59 pessoas em dietas sem glúten auto-instituídas e as randomizou para receber uma das trêsbarrinhas indistinguíveis, contendo glúten isolado, FODMAP isolado (frutan), ou nenhum dos dois. Depois de comer um tipo de barra por uma semana, eles relataram algum sintoma. Então, eles esperaram que os sintomas fossem resolvidos e começariam em outra barra até que elesssem testaram os três.

Antes de analisar as respostas dos pacientes, Lundin estava confiante de que o glúten causaria os piores sintomas. Mas, quando o cego do estudo foi suspenso, apenas os sintomas do FODMAP chegaram ao limite da importância estatística. Vinte e quatro dos 59 pacientes tiveram seus maiores scores de sintomas após uma semana das barrinhas frutadas. Vinte e dois responderam mais ao placebo, e apenas 13 ao glúten, Lundin e seus colaboradores – que incluíam Gibson – relataram em novembro passado na revista Gastroenterology. Lundin agora acredita que os FODMAPs explicam os sintomas na maioria dos pacientes que evitam o trigo. “Minha principal razão para fazer esse estudo foi descobrir um bom método para encontrar indivíduos sensíveis ao glúten”, diz ele. “E não havia nenhum. E isso foi incrível.”

Na reunião da Columbia, Alaedini e Lundin se enfrentaram em conversas consecutivas intituladas “It’s the Wheat”(é o trigo) e “It’s FODMAPS”(são os FODMAPS). Cada um tem uma lista de críticas ao estudo do outro. Alaedini afirma que ao recrutar amplamente a partir da população sem glúten, em vez de encontrar pacientes que reagiram ao trigo em um desafio, Lundin provavelmente não conseguiu incluir pessoas com uma verdadeira sensibilidade ao trigo. Muito poucos dos pacientes de Lundin relataram sintomas fora do intestino, como erupção cutânea ou fadiga, que podem apontar para uma condição imunológica generalizada, diz Alaedini. E ele observa que o aumento nos sintomas dos pacientes em resposta aos lanches FODMAP foi apenas estatisticamente significante.

Lundin, enquanto isso, aponta que os pacientes no estudo de Alaedini não passaram por um desafio cego para verificar se os marcadores imunológicos que ele identificou realmente aumentaram em resposta ao trigo ou ao glúten. Os marcadores podem não ser específicos para pessoas com sensibilidade ao trigo, diz Lundin.

Apesar dos títulos contraditórios de suas conversas, os dois pesquisadores encontram muito em comum. Alaedini concorda que os FODMAPs explicam alguns dos fenômenos de evitação do trigo. E Lundin reconhece que uma pequena população pode realmente ter uma reação imune ao glúten ou a outro componente do trigo, embora ele não veja uma boa maneira de encontrá-los.

Após a reunião, Elena Verdù, gastroenterologista da Universidade McMaster, em Hamilton, no Canadá, ficou intrigada com a polarização do estudo. “Eu não entendo por que existe essa necessidade de ser tão dogmático sobre” é isso, não é isso “”, diz ela.

Ela teme que a confusão científica crie ceticismo em relação às pessoas que evitam o glúten por razões médicas. Quando ela janta com pacientes celíacos, ela diz, os garçons às vezes atendem a pedidos de comida sem glúten com sorrisos e perguntas. Enquanto isso, as mensagens conflitantes podem mandar pacientes que se auto diagnosticaram para uma toca de coelho que evita alimentos. “Os pacientes estão retirando o glúten primeiro, depois a lactose e depois os FODMAPs – e então eles estão em uma dieta muito ruim”, diz ela.

Mas Verdù acredita que uma pesquisa cuidadosa irá acabar com as superstições. Ela é presidente da Sociedade Norte-Americana para o Estudo da Doença Celíaca, que este ano concedeu sua primeira concessão para estudar a sensibilidade de trigo não-celíaca. Ela está esperançosa de que a busca por biomarcadores como os que Alaedini propôs irá mostrar que dentro do monólito de evitar o glúten se escondem condições múltiplas e variadas. “Vai ser difícil”, diz ela, “mas estamos nos aproximando”.

Link do site que traduzimos:  THE WAR ON GLUTEN

 

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Tradução e Adaptação : Silvia Kawaguti

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2 comentários em “The war on gluten: Existe a sensibilidade ao glúten não celíaca – SGNC ??

  • 16 de julho de 2018 em 07:32
    Permalink

    Parabéns pelo site. Maravilhoso .
    Admiravel ver que finalemente ha um esrudo sevuro e confiavel para comprovar o mal de tantas pessoas swm diagnostico. Sou tecnica de nutrição e dietética, estudante de nutrição e tenho DC. Busco sempre informações confiáveis e novos estudos para me manter atualizada, me admirei ao encontrar este site com informações atualizadas e detalhadas. Acabo de montar um tipo no face para celíacos da minha cidade (Praia Grande SP)) e compartilhei uma matéria sua, espero que não haja problema. Mais uma vez meus parabéns pela iniciativa.

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  • 18 de agosto de 2018 em 13:14
    Permalink

    Excelente conteúdo informativo! Justamente o que estou passando mesmo já tendo feito vários exames e tudo sem alteração nenhuma.
    Obrigada por divulgarem o artigo e as pesquisas em torno dessa questão do SGNC.

    Resposta

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